sábado, 22 de agosto de 2009

Achei interessante e vou reprodruzir

Eu tenho 41 anos... Faço 42 em setembro...

Às vezes fico pensando no que se tornou o torcedor do Flamengo nos últimos tempos...

Sempre disse aqui que sou um leitor confesso dos grandes cronistas do futebol brasileiro, para mim muito mais interessantes do que as análises técnicas e táticas que tanto encantam os tecnocratas do futebol. Antes que me critiquem, não há aqui juízo de valor algum, ou melhor, até há, mas é questão de gosto... "A prancheta do PVC" para mim não tem mais graça do que as histórias pitorescas e cheias de picardia de Sandro Moreira, as epopéias de Nelson Rodrigues, os relatos cheios de estilo de Mário Filho e para espanto geral, as crônicas de Tostão, que unem conhecimento tático a um estilo brilhante. Não aprecio, porém, o pessimismo saudosista de Fernando Calazans, nem o estilo "fofoqueiro" de Renato Maurício Prado. Acho que futebol é paixão, é o drible, é o gol impossível. Como diria o Lulu Santos, "talvez eu seja o último romântico dos litorais deste Oceano Atlântico". Não nego isso... Como diria Nelson, "sem paixão não há nem como chupar um Chicabon".

Vejo o Globo Esporte, e descubro que o Náutico, na zona do rebaixamento, tem uma torcida apaixonada que lota o estádio em um quinta feira, para encarar o vice líder Goiás... Paixão... Sem paixão, nem um Chicabon...

No ano passado, acompanhando de longe, no Haiti, via internet, alguns dos jogos, com o sinal ruim, muitas vezes pelas rádios Globo ou Tupi, criei um blog em homenagem à paixão pelo futebol, "O Olho Rútilo", numa alusão à famosa frase de Nelson Rodrigues, referida ao "negão desdentado, torcedor do Flamengo", com "o olho rútilo e a baba elástica e bovina, gritando MENGO!"... Imagem poética de uma paixão irracional... Pergunto se existem paixões mediadas pela razão... Existem? A minha pelo Flamengo não é assim... Explicarei...

Quando tinha 11 anos de idade, eu pude ver o início da ascensão e glória de um dos maiores times de futebol de todos os tempos... Um ano antes, me 1977, havíamos perdido, nos penaltis, um título para um grande rival. Dali em diante vi um time ascender até a glória máxima de ser Campeão do Mundo. Vi com tristeza, também, perdermos alguns títulos. O tetracampeonato em 1980, numa inexplicável derrota para o Serrano, numa grande atuação do goleiro Acácio e um gol de Anapolina. O bi-vice, em 83 e 84 com os gols do "carrasco" Assis (coisa que para mim sempre me fez crer que fosse o Fluminense e não Vasco, o nosso grande rival). As derrotas nas Libertadores seguintes para Grêmio e Peñarol. O novo bi-vice em 87, com direito a gol de Tita, e 88 com o gol de Cocada. E daí? No final, éramos Flamengo, e por isso éramos os maiores.

De 1978 até 1992 o Flamengo praticamente ganhou um título por ano.

Desde então as coisas mudaram, os títulos nacionais sumiram e só voltaram 14 anos depois, numa Copa do Brasil. Antes disso, conquistamos um título continental, a Copa Mercosul em 1999. O São Paulo ascendeu e reforçou sua projeção internacional e hoje nos supera em títulos nacionais. O Palmeiras, com o patrocínio da Parmalat, formou um vitorioso time, que ao longo da década de 90, conquistou títulos nacionais e depois as Américas. O Corinthians também ganhou títulos nacionais e um estranho mundial realizado no Brasil, derrotando um fortíssimo time do nosso rival regional, que também conquistou títulos nacionais. O eixo do futebol nacional, que durante a década de 80 era o Rio de Janeiro, com equipes forte e campeãs do estado e com alguns times de menor expressão como Bangu e América, aparecendo com força no cenário nacional, deslocou-se para São Paulo. Restou ainda o tão falado charme do futebol carioca, charme este que dependia especialmente da flama do nosso Flamengo... Charme não ganha títulos... Diria Paulinho da Viola, "tudo se transformou... nem as cordas do meu pinho podem mais aliviar a dor"...

O que não muda nunca é a paixão pelo Flamengo...

Releio a mensagem do colega nosso daqui, Dirceu, sobre o seu filho... Paixão...

Volto então ao que se tornou o torcedor do Flamengo...

Concordo com tudo o que se diz sobre dirigentes incompetentes e ladrões, sobre a falta de profissionalismo, não apenas do Flamengo, mas do futebol carioca como um todo, com dois times passeando na zona de rebaixamento, um deles irremediavelmente condenado, outro disputando a segunda divisão e o Flamengo aos trancos e barrancos, com um time descaracterizado e enfraquecido. O Flamengo está uma zona de cidade do interior: uma cafetina decadente, putas feias, um ambiente imundo e desagradável, uma cena de livro de Jean Genet... Porém, lembro que para mim futebol é paixão...


E eu não abro mão das minhas paixões. Torcer para o Flamengo quando tudo vai bem é fácil. Eu digo sempre que ser Flamengo como eu sou, que viveu a década de 80 em seu esplendor, era fácil... Difícl é ser Flamengo agora, é não abandonar o Flamengo agora... E isso eu digo porque tenho uma dívida do coração com o Flamengo...

Imaginem um casal apaixonado, que viveu muitas alegrias juntos. Então, o marido/esposa contrai uma doença incurável, que vai denegerando pouco a pouco aquela pessoa linda por quem um dia se viveu um amor lindo e cheio de alegrias. A beleza vai embora, a saúde se vai, tudo se deteriora... Aquela pessoa a quem amávamos torna-se irreconhecível, ela simplesmente não existe mais, tornou-se uma sombra, algo que nem conseguimos olhar... Então, voltam as recordações dos momentos felizes em que exibíamos orgulhosos pelas ruas o nosso amor, do quão fomos felizes ao lado daquela pessoa e como as pessoas nos invejavam por este casamento feliz.

O que vejo, no entanto, são pessoas praguejando este amor, dizendo que aquele imprestável moribundo não é digno do nosso amor e nem do nosso respeito. A raiva e a dor fazem parte dos sentimentos que nos acompanham, é inegável. Mas será que não podemos ao menos respeitar quem nos deu tantas alegrias? Será que não temos o dever de acompanhar o nosso moribundo onde quer que ele vá? "Onde estiver, estarei"?

Será que esse pessimismo racional, típico dos botafoguenses e, como diz Arthur Mulhenberg, de outras "raças inferiores", é um sentimento rubro-negro?

Não peço que sejamos irracionais. Ontem mesmo, depois do jogo, como qualquer um aqui, praguejei, odiei, disse que jamais voltaria àquela UTI odiosa onde agoniza o Flamengo... Catorze horas depois, estou aqui, defendendo que apesar de tudo, somos Flamengo.

Ou melhor... Peço que sejamos irracionais e deixemos esta paixão nos tomar de assalto e continuemos apoiando o Flamengo, mesmo que aqueles que vestem a nossa camisa não mereçam, o Flamengo tem que ser maior do que eles, porque eles passarão, mas o Flamengo vai ficar. E nós continuaremos torcendo por ele... Ou não?

SRN

José Renato Baptista
Antropólogo / Rubro Negro Apaixonado

P.S.: Perdoem a longa mensagem, um convite à reflexão

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