sábado, 9 de janeiro de 2010

Não poderia deixar de falar sobre isso!



Ao tornar Cabinda sede da CAN, governo de Angola colocou jogadores em risco

por Mauro Cezar Pereira, blogueiro do ESPN.com.br


Momentos após o susto com a notícia de que o ônibus que transportava a delegação do Togo para Angola fora metralhado, o blog entrou em contato com o jornalista Jaime Spitzcovsky, da Prima Página. Ex-correspondente internacional da Folha de S. Paulo na Rússia e na China, ele é um dos caras que mais entendem (e sabem analisar) o que ocorre na geopolítica mundial. De imediato, ainda sem muitos detalhes da emboscada, concluiu: "Togo é um país colonizado pela França e um pouco mais distante daquela região, não parece ser um ataque à delegação".

Jaime estava certo. Um pouco mais tarde, falamos com Henrique Botequilha, jornalista da Agência Lusa, em Lisboa, que resumiu a situação: "Cabinda é um enclave que está instalado entre o Congo e a República Democrática do Congo. Forças de libertação do Estado mantêm o movimento que deseja separá-la de Angola, evocando um tratado assinado ainda por Portugal, país do qual o território angolano era colônia. E lá estão as maiores reservas de petróleo de Angola, principal produtor daquela região da África". Não precisa ser gênio para entender o interesse por aquele pedaço de terra.


Apesar do risco evidente de conflitos numa área definida como "zona de guerra" pelos separatistas, a província foi escolhida como uma das sedes da Copa Africana de Nações (CAN). "Com isso, o governo tenta integrar Cabinda ao território de Angola", frisa Botequilha. Claro que tal medida política, irresponsável, poderia ser vista como provocação pela Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC). Naturalmente, o braço militar da guerrilha reivindicou o ataque, logo confirmado pelo governo angolano.

"Alega-se ataque à escolta militar da delegação, não à comitiva do Togo", ressalta o jornalista da Agência Lusa. Para ficar mais claro: rebeldes consideram a região zona de guerra. O governo de Angola, apesar disso, a insere como uma das sedes do torneio, o que de certa forma reforça a ideia de que Cabinda pertence à ex-colônia portuguesa.

Assim, ignora os riscos que isso poderia levar às delegações, como ocorreu com Emmanuel Adebayor, Assimiou Touré, Moustapha Salifou e seus companheiros, acuados num ônibus durante quase meia hora de tiroteio. Morreu o motorista e dois atletas foram feridos.

Além do Togo, foram colocados em Cabinda a Costa do Marfim, Burkina Faso e Gana. Pela força dos times, o chamado "grupo da morte". Trágica ironia. E não é a primeira, nem a última vez, que usam o futebol com fins políticos, apesar dos riscos. O colunista de África do site Trivela, Marcus Alves, lembra outros episódios que caracterizam tal irresponsabilidade.

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